2014-02-27

POSSE III

O dia estava cinza, a chuva caía vagarosamente, gotas se formavam na janela de vidro como se estivessem lutando para não cair. Seria uma dia melancólico para a maioria das pessoas, mas não para Ela.

Gostava daquele vento úmido e gelado que a chuva trazia, aquele cheiro de terra molhada que lembrava a sua infância. Também gostava do cheiro de sangue misturado com água. E de limpar as mãos sujas na cascata que se formava no telhado.

Aquilo tudo lhe trazia uma paz de espirito angelical. Quase a fazia esquecer de que tinha acabado de matar uma pessoa. Quase a fazia esquecer dos problemas que isso causaria para ela.

Sequestrar. Torturar. Matar.

Quando dita dessa maneira parecia algo errado.
Não!
Em sua cabeça ela só estava fazendo justiça. Fazendo um favor pra sociedade, tirando o lixo pra fora.

Glória já não existia mais. O que restou foi apenas a memória encravada em uma pagina na internet. Pois todo mundo é imortal agora. Mesmo alguém sem alguma importância para a humanidade ficará para sempre exposta para todos verem como foi a sua vida. E depois de mortos todos se tornam santos.

Enquanto terminava de lavar as suas mãos, ela podia ouvir os gritos abafados da sua nova vítima. Uma garota de 15 anos chamada Isabela ou algo do gênero.  O nome não importava, só importava era o motivo dela estar ali.

Depois de muitas conversas pela internet e alguns encontros pessoalmente, Ela tinha certeza de que deveria acabar com aquela pífia existência. Ninguém verdadeiramente iria sentir a sua falta. O mundo não ia perder a chance de curar alguma doença nem de acabar com a pobreza do mundo.
Não!
Nada de bom poderia vir daquilo.

Mas Ela também sabia que tudo aquilo eram desculpas para matar. O desejo por sangue era mais forte do que tudo. Poder controlar as pessoas lhe excitava! Segurar alguém pelo pescoço até a pessoa ficar pálida a deixava em êxtase.

"Seria doente?"
Sempre se fazia essa pergunta quando a sua sanidade voltava momentaneamente , quando caía na real e via que tudo estava perdido. Não tem mais volta depois de experimentar o gosto do sangue.
Não existe desculpa que justifique seus atos.
Existe apenas o chamado do sangue encoberto pelos gritos abafados.

E o valor distorcido do amor.